segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Acordando com o canto dos pássaros

A tarde anterior foi mágica.
Aquele olhar enfeitiçante continua a transformar-me.
Olhar o anoitecer nunca foi tão prazeroso.
Ver a transformação do amarelo em negro.
Mas, nesta transformação, a lua e as estrelas, iluminam, assim como um amor faz com um homem e uma mulher.

Perceber que nem tudo pode estar perdido quando acreditamos que algo pode nos salvar.
É esta a imagem que tive, na tarde de ontem, quando vi Lola.
Poderia passar horas descrevendo suas características, mas não posso pensar nisto.
Pois, quando descrevemos criteriosamente algo, o sentimento pode modificar-se, tornando amor em admiração.
Não quero desvendar esta mulher, quero apenas amá-la, por aquilo que os olhos, unicamente, mostravam-me.
E com este olhar que cativava com sortilégio, acordei.
Não, ela não estava aqui, fisicamente, mas a imagem projetada em meus sonhos, certamente era a dela.
Esta imagem fez com que o som dos pássaros cantantes que deixavam-me irritado ao acordar, soasse despercebido.
Pois, nem a cantoria desafinada poderia impedir que o sorriso aparecesse em meu rosto neste dia. Aplico meu espírito, fixamente, em algo.
Não porque desejo a atenção desta moça tímida, mas porque com ela tornei-me imortal.

O nascente da poesia

- Lola, entre! - Gritava, impaciente, Dante.
A noite já está caindo, temos que terminar a mudança. - Completou.

Dante Sartrim era um homem da cidade, acaba de mudar para o campo com seus 6 filhos.
Desloca-se pela doença degenerativa que sofre.
Estava ficando, dia após dia, cego.
O campo, além de ser a fuga da sua frustração, era um sonho de sua mulher, Diane, que morrera 3 anos antes.

- Iasco, onde está tua irmã, está na hora dela preparar o jantar?
- Não faço idéia, pai.
- Gritei e não obtive resposta alguma. Procure-a e exponha a vontade deste teu velho pai.

Encontrava-me sentado na nascente de um rio, dialogando com as flores tropicais que cresciam em seu leito.
Era o meu lugar preferido, não apenas pelo perigo, pois era uma propriedade privada, mas também pela tranquilidade que aquele pedaço de terra transmitia.
Debruçava-me sobre um caderno de anotações, repleto de poesias feitas neste local.

" Havia vida por trás do sonho.
Havia sonho por trás da libido.
Sentia calafrios pelas extremidades.
Sentia dores nos meus sentidos.
  Amei as flores do Éden, mas flores não amam.
Lutei pelo prolongamento do sentimento.
Matei-me dia-após-dia, até perceber: Era inevitável o sofrimento.
O olhar fazia a luz voltar a incandescer no poente das metáforas.
Novamente sentia algo nascer.
O brado guerreiro soltava-se no silêncio da terra.
O puro misturava-se com efêmero
E as falácias de uma rapsódia terna Saiam de seus casulos morais.
Senti, enfim, a brisa revolucionária na montanha inóspita.
A ira e a desgraça brotavam numa plantação, antes, acárpica.
Notei a vasodilatação, o palpitar constante.
Segundo passaram, o escuro tornava-se claro.
Ah! Estou apaixonado pela imagem, por uma estátua construída ao meu retrato".

Já estava articulando novas palavras, mas o som de um galho quebrando me despertara.
Levantei, rapidamente, e perguntei:

- Quem está aí? - Nada escutei.

Curioso e medroso, como costumeiro, fiquei a uma certa distância dos arbustos, mas continuava a perguntar.

- Quem está aí? Apareça!

Neste momento tive uma visão que me enfeitiçou.
A mulher mais linda que já vi em toda minha vida.
Uma morena clara, cabelos longos e lisos, um olhar penetrante e um tímido sorriso.

- Desculpe-me, não sabia que tinha algúem aqui.
Acabei de mudar-me para a casa Camsonce, só vim conhecer o rio, pois disseram que era lindo.

Ela falava, mas eu continuava hipnotizado por seus olhos, não conseguia articular uma frase.

- Olá? Eu sou Lola. Qual é o seu nome?
- É... - Desnorteado, esqueci o próprio nome.
É.. Henry.
Desculpe pela invasão, mas frequento esta nascente desde menino, não sabia que alguém tinha se mudado para a propriedade. - Depois de alguns segundos, falei.

- Lola! Aí estás. O pai está chamando, disse para voltar para casa agora. - Incisivo, o jovem Iasco, pegou a irmã pelo braço.

Fiquei sem reação por alguns minutos.
Só vendo aquela linda senhorita desaparecer pelas árvores.
O meu coração palpitara forte, como nunca. Ah! Meu Deus, será isto amor?

Prefácio

Caminhando pelos truculentos caminhos de pedra encontro a moça que me despertara sentimentos únicos.

É-me visível aos olhos a mais pura das mulheres, a mais segura e insegura ao mesmo tempo.

O olhar penetra em meus olhos, destrói a imagem que tinha do ideal feminino re-construindo, rapidamente, outro ideal.

Sibilava que amor renasceria das cinzas e que, desta vez, ao escárnio que iria me submeter ao descrevê-lo, manteria meu foco.

Esta sensação, sentida diariamente, roubada dos sonhos para a realidade, torna minh´alma uma dependente daquele olhar.
Resignando o amor de todas as mulheres.
Ah! Minha doce menina, espero que um dia possa dizer-te todos os sentimentos contidos no que escrevo.